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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Solidão

"Houve outra vez em que ele me mostrou um poema em forma de oração, guardado,
dobradinho, na sua carteira. Tinha o título Pegadas na Areia. E tinha uma história. Contou que
passava por um momento difícil da vida - pessoal, emocional, profissional. Estava em Angra e
saiu sozinho para correr numa praia deserta, pilotando o helicóptero. Sozinho, não - a Quinda o
acompanhava. Desceram, ele calçou o tênis e foi correr. Quinda, discretíssima, ficou sentada na
areia, observando o mar. O silêncio era absoluto - ele só ouvia os seus próprios passos no piso
duro da praia. Foi correndo até o canto da praia e voltou. Viu as marcas de seus pés na areia -
nada mais do que aquilo indicava a presença de algum tipo de vida naquela imensidão. Foi um
momento mágico - de revelação. Ele refletiu sobre sua solidão. Ela lhe doía no peito, lhe parecia
enorme. Mas, pensou, aquelas suas pegadas na praia eram uma migalha na amplidão do universo.
Ele se sentiu vivo, e minúsculo, diante do mistério da criação. Levantou vôo no helicóptero e
ficou sobrevoando a trilha na areia.
Infinitas são as maneiras de Deus se revelar aos homens. Para o Béco, bastaram umas
marcas de areia, num dia de sol, na vasta solidão de Angra dos Reis.

PEGADAS NA AREIA

Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava na praia com o Senhor e, através do céu, passavam cenas da minha
vida! Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia.
Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as
pegadas na areia, e notei que, muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de
pegadas na areia. Notei, também, que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiantes
da minha vida.
Isso aborreceu-me, deveras. Perguntei, então, ao Senhor.
"Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvi te seguir, tu andarias sempre comigo,
todo o caminho, mas notei que, durante as maiores tribulações do meu viver, havia, na areia dos
caminhos da minha vida, apenas um par de pegadas. Não compreendo por que, nas horas em que
eu mais precisava de ti, tu me deixaste ".
O Senhor me respondeu:
"Meu precioso filho: eu te amo e jamais te deixaria nas horas de tua prova e do teu
sofrimento! Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que eu te
carreguei nos braços"."

Extraído de O Caminho das Borboletas, de Adriane Galisteu. Livro no qual ela narra sua história ao lado de Ayrton Senna, ou Béco, como ela o chamava.

Fico devendo minha resenha do livro.