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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A minha arte

Desde pequena sempre perdi as coisas que mais gostava. O guarda-chuva da Moranguinho, a lancheira cor-de-rosa, presilhas de cabelo, peças de quebra-cabeça, o lápis da cor preferida, o dado dos jogos.

Era estranho porque quanto mais gostava de algo, mais tentava cuidar para não perder, mas acabava perdendo. Ficava triste pela irresponsabilidade, por não ter mais o que gostava e pela brinca (lógico) que tomava.

Certa vez, quando estava no primeiro ano de faculdade, perdi a chave da kitnet em que morava com uma amiga, três vezes na mesma semana. Como se não bastasse ter ficado trancada para fora tantas vezes, perdi meus os óculos no ônibus.

O tempo passa e continuo perdendo.
Perdi trabalhos, amigos, clientes, oportunidades, sonhos, perspectivas, a pessoa que amo e talvez a benção prometida.
Perdi por gostar demais e dar tanta atenção e cuidar tanto que acabou estragando.
Perdi por amar demais, por zelar demais, ao ponto de ficar irritada por qualquer coisa não sair como eu havia imaginado.
Perdi por me distrair por um segundo.
Perdi por ter medo de perder.

Agora estou aqui, trancada para fora, sem ver direito.

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